domingo, 27 de julho de 2008

A Tia Natália

Há cerca de um mês, a Tia Natália foi operada de urgência a um aneurisma, localizado no cérebro.
Fiquei muito preocupada. Com os seus 84 anos, iria resistir a uma operação tão melindrosa?! Felizmente, conseguiu ultrapassar todas as dificuldades e obstáculos e, apesar de muito debilitada, deram-lhe alta no hospital de Lisboa.
Agora, está no Centro de Apoio a Doentes da Clínica Rainha Santa Isabel, da Cruz Vermelha de Estremoz.
Na passada 3ªfeira, fui visitá-la, com a tia Marialena, o tio Jacinto e o Zé. Quando entrei na sala, vi uma velhinha, "muito velhinha!", de cabeça rapada, sem dentes, sentada num cadeirão, segura "amarrada!" por um lençol, para que não escorregasse nem pudesse sair dali. Recebeu-nos com um grande sorriso. O sorriso meigo e lindo que sempre teve a Tia Natália.
Puxei uma cadeira e sentei-me junto dela. Comecei a falar-lhe e a Tia Marilena perguntou-lhe se sabia quem eu era, e ela muito admirada com a pergunta, respondeu de imediato: " Mas, é a Zuzu!" e sorria-nos, com um sorriso cúmplice...
Ficámos todos muito admirados e felizes quando ouvimos aquela resposta, tão clara e acertada. A tia Marilena voltou a questioná-la se era mesmo eu que ali estava e ela olhou-nos e disse: " É evidente que é a Zuzu!" e continuou: " Hoje, sonhei contigo. Não me lembro do sonho mas sonhei contigo! e esta manhã pensei em ti!"
Quando ouvi estas palavras, ditas com uma enorme dificuldade, senti um arrepio pela espinha... ao mesmo tempo, senti uma alegria enorme por saber que eu tinha estado no seu pensamento. Ainda bem que fui visitá-la, pois tive mais uma alegria, vim confirmar o que sempre e há muito soube: que sempre gostou de mim, que sempre teve por mim um grande carinho e até mesmo admiração pelo meu feitio, pela pessoa que sou.
Eu continuei a falar com ela, mas, por vezes, ou melhor "muito frequentemente!", a Tia Natália usava palavras sem nexo, misturava diversos assuntos na "conversa" e tudo isto com uma dificuldade enorme em exprimir-se. Começava a ser difícil mantermos um diálogo. Ela começava a mostrar cansaço e a desligar-se de nós, começando a dar mais atenção às imagens da telenovela que a televisão transmitia.
E decidimo-nos ir embora, para a deixar descansar...