sábado, 21 de junho de 2014

QUADRA

Quem ganha três e gasta quatro
Não precisa de bolsa nem  saco


D. Esperança  (87 anos ) 

QUADRAS DA QUINTA-FEIRA DA ASCENÇÃO / ORAÇÕES DIVERSAS

Quinta-feira da Ascenção
É que se arranjam amores
Quando o trigo está em chão
E todo o campo cheio de flores

Levantei-me um dia cedo
Quinta-feira da Ascenção
Encontrei Nossa Senhora
Com um raminho d’ouro na mão

Quinta-feira da Ascenção
Toda a erva tem virtude
Quis amar teu coração
Fiz excepção, mas não pude

Quinta-feira da Ascenção
Fiz um risco na parede
Amei o teu coração
Deixá-lo também não hei-de.

*****************


Encontrei Nossa senhora
Quinta-feira da Ascenção
Pedi-lhe  uma florinha
Ela me disse que não
Eu lhe tornei a pedir
Deu-me o seu divino cordão
Pintador que tão bem pintas
Pinta-me este divino cordão
Que me deu Nossa Senhora
Quinta-feira da Ascenção

*******************

Levantei-me um dia cedo
Espetei um pico no pé
Bradei a Nossa Senhora
Acudiu-me S. José

S. José foi lá acima
Acender seu candeeiro
Encontrou Nossa Senhora
Com o Menino Verdadeiro

***************


Levantei-me um dia cedo
Por um grande mistrério que havia
Encontrei o Padre Santo
Rezando à Virgem Maria

Padre Santo me procurou
Como ficou por lá Maria?
Ficou numa cama de ouro
Coberta de seda fina

Ainda isso não é nada
Para o que Maria merecia
O sangue dela corria
Para o Cálice consagrado

Quem esta oração rezar quatro almas há-de salvar, a 1ª é a sua, a 2ª de sua mãe, a 3ª de seu pai, a 4ª de quem mais bem lhe quiser
Amem

*******************
Padre Nosso pequenino
Tem a chave um anjinho
Quem lha deu quem lha daria?
Foi o Filho de Deus
E da Virgem Maria
Já os galos cantam 
já os anjinhos se levantam 
Já o Deus subiu à cruz
para sempre Jesus
Amem
 ***************
Oração para a  Erzipela   ( Erisipela )

Pedro Paulo foi a Roma
Jesus Cristo encontrou e lhe procurou:
De que mal morrem por lá?
De Erzipela, ersiplá
Volta atrás Pedro Paulo
Com este esparto* benzerás 
Olho lito** curarás
Fique em louvor da Virgem Maria 
Pai Nosso Avé Maria

* corda        ** azeite
Reza-se um Pai Nosso e uma Avé Maria


***********
ORAÇÃO DAS QUEIMADELAS ( queimaduras)

Santa Sabina tem sete filhas
Todas sete no fogo ardiam
A Santa, como era Santa
Pedia a Deus e à Virgem
para que este fogo apague
Mas que por adiante não lavre. 
Fique em louvor de Deus e da Virgem Maria
Pai Nosso  Avé Maria


D. Joaquina Carreiras( 83 anos)   natural de Almadafe   


um abraço à prima Joaquina

bom que ela tenha recolhido tantas preciosidades da avó Maria da Barroca - incrível senhora 
mulher de 3 maridos
e muito mais atividades

ela própria, analfabeta, tinha a sua produção própria de poesia - lembro-me disso

parabéns à ZU, pela sensibilidade de fazer esta recolha cheia de interesse antropológico 

António Saias




História «O velho, o rapaz e o Burro»

A D. Mónica ( 86 anos) viva e entusiasta de ouvir e contar histórias, lembrou-se da História do Velho, do rapaz e do burro. Costumava contá-la aos netos e assim contou com todo o entusiasmo: 

Vivia no monte um homem muito velho que tinha na sua companhia um neto.
Certo dia o velho resolveu descer ao povoado com o seu burro fazendo-se acompanhar
do neto. Seguia a pé o velho e sentado no burro ia o neto. Ao passarem por uma
povoação logo foram criticados pelos que observavam a sua passagem:
- O garoto que é forte montado no burro e o velho coitado é que vai a pé!
Então o velho mandou apear o neto e montou-se ele no burro. Andaram um pouco mais, e pararam numa fonte para matar a sede e aí encontraram duas mulheres a encherem os seus cântaros e elas
disseram:
- Olha para isto! A pobre criança a pé e ele repimpado no burro!
Ordenou então o velho ao neto:
- Sobe rapaz, seguimos os dois montados no burro!
O rapaz obedeceu de imediato e continuaram a viagem. Mas um pouco mais adiante um
homem enfrentou-os com indignação:
- Apeiem-se homens cruéis, querem matar o burrinho?!
O velho resolveu levar o burro às costas, com a ajuda do rapaz. Um pegou nas patas da frente e o outro pelas patas de trás. Iam eles assim, quando passaram por uns homens que andavam a trabalhar no campo e estes disseram:
- Olha, olha, que grande estupidez, levam o burro às costas!! o burro é que os devia carregar, e eles é que carregam com ele!! ah, ah, ah...
O homem e o rapaz resolveram pôr o burro no chão e o velho disse ao rapaz:
Sobe para o burro; continuamos a viagem como começámos. Está visto que não podemos calar a boca
ao mundo. Daqui para a frente faremos o que acharmos mais  correcto!

CASA BRANCA

Refrão:
A Nossa aldeia linda e modesta
De garça Cheia  é noiva sempre em festa
 Viva a sua gente honesta e franca
Que a baptizou, tão bem casa branca.

A nossa terra é pequena
 Mas é mais linda que as mais olaré
Lembra uma linda açucena
Que nasceu entre os trigais, tão branca é .

De manhã cedo ao Sol-pôr
Andam risos e cantigas pelo ar
Vão e vêm do labor
Rapazes e raparigas, sempre a cantar.

Tem sempre um ar prazenteiro
Com sua casas branquinhas, como arminho
Onde há sol o dia inteiro
E onde vão as andorinhas fazer o ninho .

Depois ao anoitecer
Reina uma paz tão fagueira que conforta
 Descansa-se com prazer

 De inverno junto à lareira, de verão à porta
O POÇO LARGO




D. Teresinha Leão  ( feita nos anos de 1940 para uma peça de teatro que se representou na fábrica de moagem )


Poesia ditada pela Prima Isabelinha ( 84 anos)

AS CANTIGAS DE ANTIGAMENTE

Almoço

D. Margarida e D. Joaquina Carreiras

Grupo

Ontem, como é habitual às 6ª feiras,  fui ler as minhas histórias às velhotas do Lar da 3ª idade de Casa Branca. Depois de ouvirem os contos, quiseram cantar. Então, a Srª Margarida Reloja ( 82 anos) , a Srª Mónica (86 anos) , a Srª Joaquina Carreiras (84 anos) , a prima Dulce (89 anos), a prima Isabelinha ( 84 anos) , a minha mãe (86 anos), a D. Ana (92 anos)  e eu cantámos cantigas que eram cantadas antigamente.
Foi um agradável momento e quanto mais cantávamos mais elas se lembravam doutras. Assim, consegui ficar com algumas letras ditadas por elas, como a que se seguem:


Margarida vai à Fonte 
Margarida vai à fonte (bis)
Vai encher a cantarinha (bis)
Brotam lírios pelos montes
Margarida vai à fonte,
Margarida vai à fonte e vem sozinha

É tão linda a casa dela  (bis)
Tem aspectos no jardim
Os canteiros na janela
Tão bonitos como ela
Têm aroma a alecrim


Cantiga do MAIO 
 A D. Ana (92 anos) é do Ervedal. Gosta muito de cantar. Contou que no seu tempo de juventude, no dia 1º de Maio, grupos de raparigas, com flores campestres nos cabelos, cantavam pelas ruas, ao Maio

Oh Maio, oh Maio das barrocas
Para onde vai o Maio
Para estas cachopas

Oh Maio, oh Maio das solteiras
Para onde vai o Maio
Para essas barreiras


A 13 de Maio

A 13 de Maio na Cova da Iria
No céu apareceu a Virgem Maria
Avé, avé  avé Maria
Avé, avé, avé Maria

A 13 de Outubro foi o seu adeus
A Virgem Maria voltou para os céus
Avé avé avé Maria
Avé, avé, avé Maria

A Virgem nos manda o terço rezar
Dizendo que o terço nos há-de salvar
Avé, avé avé Maria
Avé avé avé Maria

Foi aos pastorinhos que a Virgem falou
desde então nas almas nova luz brilhou
Avé, avé avé Maria
Avé avé avé Maria





04 - Paulo Tapajós - Margarida vai a fonte

OS ACABAMENTOS

OS ACABAMENTOS

Nas casas dos grandes lavradores, durante os  meses de inverno, grandes ranchos de mulheres e homens andavam na apanha da azeitona. 
Quando terminavam de apanhar o último olival, faziam o acabamento. O patrão oferecia um borrego para fazer um ensopado ou outra coisa para comerem, um garrafão de 5 l de vinho, e iam comer para um barracão  do patrão.
Vinham do campo, com um arco feito de rama de oliveira enfeitado com  flores do campo e em grupo percorriam a pé as ruas da aldeia. Cantando a cantiga dos acabamentos.

Maria do Carmo, linda padroeira
Dá-me quatro figos, olaré sim, sim, da tua figueira
Ah sim, sim há mais quem queira
Gorou, gou gou o galo cantou

O galo cantou, Deixá-lo cantar
Maria do Carmo olaré sim, sim hei-de-te amar
Ah sim, sim há mais quem queira

gorou gou gou o galo cantou.
OLIVAL

O EXAME DA 4ª CLASSE

Maria Zulmira, Maria Augusta Anica, Elisabete Borralho

O EXAME DA 4º CLASSE

Quando chegava o mês de Junho, era a época dos exames. Os meninos e meninas que frequentavam a 4ª classe, tinham que se deslocar à escola de Sousel, para fazerem o exame. Era uma coisa de grande responsabilidade. Muitos poucos de nós tínhamos saído aqui da aldeia, por isso, ir fazer exame a Sousel, era um acontecimento. Espaço e professores desconhecidos, que nos impunham muito receio e respeito. Nem para os professores nós tínhamos coragem de olhar!! A timidez era enorme.
Deslocávamo-nos como podíamos, mas a maior parte ia no carro do Sr. Zé Delfino. Vestíamos os nossos melhores vestidos  de verão, sandálias de couro feitas nos sapateiros da aldeia, e lá íamos nós, de manhã muito cedo. A prova escrita era da parte da manhã, e da parte da tarde a prova oral. Uma sala enorme, com carteiras afastadas umas das outras, onde nos sentávamos dois a dois. Era expressamente proibido olhar para a prova do companheiro. As professoras cirandavam pela sala, com um ar de   grande solenidade e de grande tensão.
Fazia sempre muito calor. As mãos suadas, deixavam escorregar a caneta de tinta permanente ou a caneta de aparo, que era molhada no tinteiro da carteira. As mãos escorriam água, então tínhamos uma folha de papel branco , dobrada, que púnhamos debaixo da mão, e que ia acompanhando a progressão da escrita. Alguns, mais nervosos, deixavam cair um borrão de tinta em cima da prova, o que desfeava a mesma. Começavam a chorar, por lhes ter acontecido aquilo que mais temiam. Tanto que a professora recomendou que pusessem pouca tinta no aparo, para que não houvesse borrões!!!
Não me lembro onde almoçávamos, mas lembro-me de no fim do dia comer um gelado no quiosque do jardim.
Depois das provas realizadas, chegávamos a Casa Branca por volta das 4 ou 5 horas da tarde. O grupo dos alunos e das alunas que fizeram exame  começava a percorrer as ruas da aldeia e a  a cantar  esta cantiga
Bate palmas, bate palmas
Amor aperta-me a mão
Tenho a sina de ser tua (bis)
Mas por hora ainda não (bis)

Bate palmas, bate palmas  (bis)
Amor aperta-me a mão   (bis)
Viva a Srª D. Amélia
Que nos deu educação

Parávamos em casa de cada companheira, onde na casa de entrada estava a mesa posta, com pratos de bolos e licores muito coloridos, verde, azul, vermelho, que nós bebíamos em copinhos pequeninos.  Depois continuávamos a volta à aldeia e entrávamos em casa doutra colega, e assim, íamos a casa de todas as companheiras, sempre cantando a cantiga “ Bate palmas...”
Para a maioria das minhas colegas, o fazer exame da 4ª classe, implicava que começariam a ter uma vida completamente diferente da que tiveram até ali. Ou iam trabalhar no campo, ou tomar conta dos irmãos mais novos, ou ir “servir” para casa de pessoas que tinham criadas.  No universo de 40 a 50 alunos, éramos 10 ou 12 ( entre rapazes e raparigas) que se preparavam ( com explicações particulares ) para fazer o exame de admissão aos liceus afim de  prosseguirem os estudos nas grandes cidades.