sexta-feira, 6 de março de 2015

A AVÓ DOLORES





A sensação de perda é terrível. Viemos ontem de Amareleja,pois nós e os teus pais decidimos ficar mais um dia, para deixarmos as contas organizadas e a casa mais ou menos em ordem. A casa ficou fechada... até ver....
A D. Rosa, que ia dormir com a avó Dolores diariamente, foi buscar os edredons e as coisas pessoais e eu e a tua mãe ainda estivemos a conversar com ela um pouco. Ela já dormia lá a casa com a avó há 2 anos e gostava muito da avó Dolores, diz que sempre se deram muito bem e que a avó tinha um feitio tão bom que nunca houve nada entre elas; pelo contrário , a avó Dolores nos seus 90 e muitos anos tinha uma atitude de uma pessoa nova, sem implicar, sem ser rabugenta, sempre com uma atitude simpática, sorridente e bem disposta. O único inconveniente era a falta de ouvido, o que junto à sua característica de pessoa pouco faladora, fazia com que muitos serões passassem a olhar para a televisão ( a verem a telenovela que seguiam)  e  pouca conversa havia entre elas. 
Vai deixar-nos muitas saudades, pois foi sempre aquela pessoa, discreta, mas atenta aos outros. Foi uma avó fantásticas para os netos e todos vocês (netos)  têm óptimas recordações dela ( os bolos que tu fazias com ela! a disponibilidade constante para com todos nós, os almoços e jantares fantásticos que nos oferecia! as pupias que  logo pela manhã ia comprar à padaria para que quando nos levantássemos tivéssemos pão fresco e bolos quentes para o pequeno almoço) tantas e tantas atenções que ela nos proporcionava... sem um ar de cansado, sem um ar de enfado, sem uma palavra mais brusca.
Todos nós vamos recordar a avó Dolores como aquela pessoa de coração muito bondoso, sempre disponível para os outros, sempre com um sorriso meigo a receber-nos ao portão da casa, a preparar as refeições na cozinha do quintal, andando (correndo tanto de inverno como de verão) de uma cozinha para a outra, pelo menos uma boa dúzia de vezes ( por refeição!) para fazer a refeição que tinha destinado para nós. Quantas e quantas vezes eu lhe pedi que pusesse todos os ingredientes na cozinha nova e que começasse a cozinhar no fogão dessa cozinha, porque era muito cansativo andar de um lado para o outro: faltava uma frigideira ia-se à cozinha, faltava uma tigela ia-se à cozinha, faltava a margarina ia-se ao frigorífico que estava na cozinha, faltava uma colher e tínhamos que ir buscá-la à cozinha!!) eu ficava mesmo enervada com a situação, e a avó Dolores desvalorizava a situação e ainda se ria por eu estar sempre a refilar!!!
A avó Dolores é de uma geração ( que vai acabar com estas pessoas) que se habituou a sacrificar-se pelos outros, que se entregou uma vida inteiro para proporcionar aos outros bem estar, serenidade e alegria. 
Gostava muito que todos os netos escrevessem um pequeno texto a lembrar episódios  passados com a avó Dolores, era a melhor maneira de a homenagearmos e de perpetuarmos a sua memória  para que os mais pequeninos como o Xavier, a Joana e até o Tiago viessem a conhecer através das nossas palavras esta mulher maravilhosa, esposa dedicada e apaixonada, mãe sempre presente na vida dos filhos e mais tarde das noras ( que a adoptámos como mãe) , uma mulher que só dizia o indispensável, sabia ouvir e escutar e que não era pessoa para dar muitos conselhos, ouvia, escutava e por vezes limitava-se a sorrir...
A avó Dolores partiu no dia 25 de Fevereiro de 2015 às 6 horas da manhã, no Hospital de Stª Luzia, em Elvas

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